Tem dias que decido que preciso organizar minha vida, mudar tudo, colocar em ordem, fazer uma revolução! Então começo arrumando o guarda-roupa! Engraçado, o guarda-roupa do filme As crônicas de Nárnia levava pra um mundo encantado, mas o meu não! Mas isso não me impede de arrancar tudo dos confins dele, recolocando em ordem ou numa sequência de fácil acesso as coisas que mais uso e mais úteis. Guarda- roupa guarda utilidades, coisas que o tempo se encarrega de dizer que são inúteis. Eu, guarda de mim, trago aqui dentro coisas que o tempo se encarrega de dizer que são inúteis !
Vamos ao guarda-roupa: roupas de inverno, verão, olhe só até uma canga florida (pra lembrar dos ares do litoral) ! Há coisas que já não servem mais, peças que, com o passar do tempo, ficaram desajustadas e já não comportam mais certos comportamentos… Aquela velha blusa de guerra, quantos momentos juntas! Foram altos invernos…aqui dentro e lá fora! É possível sentir abraços que jamais irão voltar, e o calor que deles foi possível reter…mas é tempo de desapego! E o cachecol, fiel guerreiro, quantas vezes segurou minha garganta…e escondeu tantos outros nós presos nela… quantas vezes escondeu aquele ‘gole seco’, e me ajudou a dizer que estava tudo bem quando perguntada, sendo que na verdade estava tudo muito mal! Olhe lá! Blusas de verão, cores suaves, ‘decolores’ , cores que em dias como hoje não combinam com as nuvens que pairam sobre a minha cabeça.Precisam sair daqui, ocupam espaço de uma estação que ainda virá, bem é a vida, e são as estações.Aquele velho jeans surrado, viveu inverno, outono, primavera e verão! Este sim é dos bons! Não se manteve preso a uma estação fixa, sempre se reinventou, parece algo que tenho mantido comigo e como este jeans, está surrado.
A vida é feita de estações. Meu guarda-roupa e eu também!
Há tempo de ventos frios, um bom cachecol, uma blusa, uma touca e um acalento de quem você quer bem, uma fogueira e amém! Mas as estações não mudam de uma hora para outra, apenas quando cumpriram seu tempo, umas se arrastando mais, outras menos… O inverno, período frio, vem latim: “hiems” que seria dividido em apenas duas fases: o Tempus Autumnus ou “tempo do ocaso”, em que as temperaturas entram em declínio gradual, e o ‘Tempus Hibernus’, a época mais fria do ano, é a ausência de fertilidade. Após este tempo de solidão…vem a Primavera ou ‘primeiro verão’, sim, é lá que tudo ganha cor e floresce! No verão, vem o tempo de frutificar, e dados os frutos, temos o outono, o tempo dos desapegos. É preciso mudar de estação dentro da gente pois é no rigor do inverno que as sementes são gestadas, na primavera elas apenas florescem. Sonhos que souberam ser gestados, cuidados no rigoroso inverno, florirão na próxima estação, é preciso crer. Sábia natureza que ensina que nenhum tempo é perdido, e que é preciso bem vivê-lo.
Me sinto mais em ordem agora, pronta para me desapegar de algumas coisas, colocar em caixas, e deixar à mão o que, de fato, irá me favorecer nestes dias. É tudo uma questão de entender que quantidade não é qualidade, e que guardar coisas entulha a vida! É preciso dar passagem e vazão. Desapegar: cada coisa em seu devido lugar.
De tempos em tempos, é necessário arrumar o guarda-roupa e o coração.
Que mesmo sem um guarda-roupa que nos leve a Nárnia, nunca deixemos de acreditar na magia da vida, pois quando você menos espera as estações chegam e as coisas mudam de lugar.
Cristina Coutinho
Paranaense, formada em Administração e graduanda em Psicologia, na ciência encontra a essência e reconhece que, quanto mais aceita quem é, avança. Ama música, poesia e saudade; todas a levam em direção ao céu. Acredita no poder da palavra escrita e da linguagem verbal, ou não. Entende que a vida flui de dentro pra fora e, por isso, o amor deve ser sua maior necessidade diária.
Aproveito este inspirado texto para indicar também a leitura de um livro. Chama-se: A Mágica da Arrumação – A Arte Japonesa de Colocar Ordem na Sua Casa e na Sua Vida. Da autora Marie Kondo. Fala justamente sobre organização pessoal e como arrumar a casa ajuda a arrumar, de fato, a nossa vida! Gostei do texto. Obrigado por compartilhá-lo conosco. 🙂
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Vitor, eu tenho esse livro, realmente é muito bom!
Não consegui fazer exatamente o método, mas o desapego é libertador!
Cris Coutinho teve uma argumentação muito boa neste aqui!
Abraço
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Mariella, obrigada 🙂
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Victor não conheço este livro, mas procurarei conhecê-lo, obrigada.
Beijo! 🙂
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