Desde que nos nasceu nossa terceira criança, minha mulher e eu temos reparado que quando estamos em público somos percebidos por termos uma família grande. Certo dia, na piscina do clube, fui dizer a minha mulher que as pessoas estavam nos olhando de novo. Quando me virei para dizer, não pude fazê-lo, pois um casal nos olhava diretamente. Isso também acontece em shopping, na rua e até mesmo na missa.
Desde quando ter três filhos é muito? Por que temos uma cultura antinatalista? Por que meu coração não pode amar, cuidar e proteger muita gente? Por que meu amor não pode gerar?
Quando digo que sou pai de três filhos, invariavelmente escuto alguma destas expressões: animado, corajoso, ostentação, não tem tevê em casa (ou Netflix, já que millenials atualizaram a piada) ou vai acabar com os recursos naturais do planeta. No fundo, todas essas expressões se resumem a uma visão: filhos na nossa cultura atual são vistos apenas pela ótica do custo, seja ele financeiro ou não. Pais de três filhos seriam animados porque crianças dão trabalho demais. Seriam corajosos porque criar três filhos é penoso. Ostentariam porque criar três filhos é caro demais. Provavelmente não têm televisão em casa pois qualquer coisa é mais divertida do que filhos. E vão acabar com o meio-ambiente já que não tem a capacidade de educar uma criança para se tornar um cidadão responsável e sustentável.
Em 2016, minha mulher sofreu um aborto espontâneo. Nós sofremos muito. Minha filha que na época tinha três anos até fez sua amável professora chorar pois tamanha era sua dor. As pessoas, para nos consolar, diziam que nós poderíamos ter outros filhos no futuro, como se filhos fossem bens substituíveis. Também isso é um reflexo desse pensamento torto sobre filhos.
Meus filhos não foram gerados pela coragem, pela necessidade ou pela ostentação, mas pelo amor que existe na minha família. É, sim, bastante difícil e caro cuidar de três filhos. É ainda mais puxado para minha mulher já que, ainda que compartilhemos as tarefas, a demanda sobre ela é maior. Mas nós os amamos. O amor que sentimos recompensa todo o sacrifício.
Uma amiga, certa vez, me disse que filhos matam o nosso egoísmo e nós, pais, sentimos falta do nosso egoísmo. Dou um exemplo bem simples. Decisões simples como emendar um almoço fora de casa com uma compra numa loja ou simplesmente usar o banheiro sossegadamente podem ser inexequíveis para quem tem filhos, ao tempo que são apenas triviais para que não tem filhos. Pais e mães têm de sacrificar o egoísmo de tomar suas decisões sozinhos, de ter suas próprias agendas, em prol de alguém com necessidades muito básicas (fralda suja, hora do lanchinho ou necessidade de comer vegetais em casa).
Ora, se filhos matam o nosso egoísmo e o egoísmo é uma coisa ruim, então ter filhos é uma ótima ideia.
Não culpo as pessoas por terem esse pensamento negativo sobre filhos. É fato que existe uma cultura que valoriza o egoísmo e o individualismo, mas, por outro lado, existe uma estrutura social e política no nosso país que não ajuda as famílias nem sequer se preocupa com elas. O fato de não termos no Brasil educação e saúde de qualidade, segurança laboral, níveis seguros de proteção social e salários justos tornam o ato de ter filhos um risco. Ao mesmo tempo, altos impostos, a longa jornada de trabalho e a falta de infraestrutura urbana e de transporte que tornam os deslocamentos demorados e aumentam as ausências nos lares fazem da paternidade quase um ato de irresponsabilidade. A necessidade de estruturas de apoio para cuidado das crianças como creches, avós (como vovó Eliana, que nos ajuda muito) e babás tornam o ato mais complexo. Quem quer encarar essa jornada?
Para mudar todo este cenário social, político e cultural, devemos mudar a nossa avaliação individual e coletiva sobre os filhos. Filhos não devem ser percebidos como custos, desafios, poluição ou itens substituíveis, mas sim como dádivas, como gratuidades, que merecem priorização da sociedade como um todo. No nível individual, os desafios da vida não devem sufocar o valor da vida humana. O amor do casal é criador. Os filhos gerados vem somar-se a esse amor. Ao mesmo tempo, são dádivas para a comunidade, pois também a esta as crianças são confiadas.
O catecismo da Igreja vaticina que os pais não têm o direito de ter filhos. São os filhos que têm direitos aos pais. Desde sua concepção, estes devem ser reconhecidos como sujeitos, terem sua dignidade humana respeitada, serem amados, educados e protegidos. Portanto, a paternidade é um serviço.
Por isso, quando encontrar uma família grande, busque reconhecer a generosidade e o amor que existe ali. Troque as expressões “corajoso”, “animado”, “ostentação” (que são críticas veladas) por elogios. Ou, pelo menos, não os encare como uma atração turística.
Leonardo Prudente é casado com a Moema e pai de Matias, Agnes, Maria e de um anjinho no Céu. Escreveu esse texto com uma mão só, porque a Maria estava deitada no outro braço.
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Eu tenho uma filha e me criticam por querer ter o segundo. Se Deus assim permitir,jamais vou privar minha filha de ter a doce companhia de um irmão. Pretendo ter dois,mas se Deus me enviar mais,será muito bem vindo. Parabéns pela família linda.
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Vai com fé! Sua família vai ficar ainda mais linda e com mais amor!
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Ah,muito obrigada, Pode ter certeza de que seu texto me ajudou muito a buscar esta fé! E que venham mais filhos,rsrsrsrs. Amém!
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Esta família transborda amor. Sinto não estar mais próxima deles. Amigo, parabéns pela família linda que construiu; parabéns pelo belo exemplo; parabéns por exercer tão bem sua paternidade.
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Muito obrigado, Fê! Sua família também é linda! Você sabe porquê e eu não preciso dizer aqui!
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Leonardo,
Obrigada por dividir sua história conosco.
Eu sou a quinta filha de seis é minha mãe sempre sofreu esses olhares e comentários, mas ela sempre disse: ” Não me arrependo e não viveria sem nenhum de vocês.”
Parabéns por sua coragem e que tenhamos mais Marias e Leonardos falando sobre a graça de ter filhos.
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Obrigado pelo comentário tão legal! Sua mãe é uma inspiração!
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Leonardo, estou vivendo as 6 semanas da minha primeira filha e já entendi muito bem a parte do egoísmo ali…rs.
E escrevi o comentário também com uma mão só porque a pequena está no colo.. e como é bom tudo isso. Parabéns pelo amor de vocês!
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Ana, a maternidade e a paternidade são vida curta de dias longos. Dá trabalho, o dia demora a passar, mas quando olha para trás vê que passou rápido.
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Eu tenho três filhos, meu caçula tem 8 anos hoje e sei exatamente o que é virar o centro de atenção em shoppings, restaurantes e festas…. essa percepção demora passar, mas nos fortalece enquanto família. É um “acinte” acolhemos os filhos que nosso amor gera e vou dizer: não me arrependo não! Cabe mais se Deus quiser mandar!
Obrigado por seu texto!
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Quando eu passeio com as crianças sem minha mulher, sinto me olharem como se fosse divorciado, mas evito essa paranoia.
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Adorei o texto. Meus três já estão grandes e os admiro por serem companheiros, verdadeiros amigos de sangue. Ter filhos é um milagre. Recomendo quantos for para a felicidade de Deus e aprendizado nosso.
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Obrigado! Parabéns pela família!
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Leonardo,
ótimo texto.
Uma dica: quando perguntarem “você não TV em casa?”, diga: “tenho, mas namorar com minha mulher é bem melhor que a Netflix!”.
Deus o guarde!
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É uma Boa! hehehehehe
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FENOMENAL este texto! Não sei porque… mas parece que o assunto FILHOS é polêmico entre os católicos. Não? 😉 Abraço!
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Victor, acho que não. Vejo que filhos (ou melhor muitos filhos) são uma questão para os brasileiros, católicos ou não, por causa da nossa estrutura mental, social e política. A doutrina católica tensiona essa estrutura. Obrigado pelo elogio ao texto!
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Sou mãe de apenas uma filha, mas acho lindo uma família numerosa! Gostei imenso do seu texto!
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Muito obrigado! Um abraço!
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