Cozinhar com as crianças é uma das formas para que elas criem uma boa relação com a comida. Conhecer os alimentos, formar laços e memórias afetivas tanto com a comida quanto com seus cuidadores, conhecer diversas culturas e histórias de família é dar a volta ao mundo dentro da própria cozinha.
É fincar os pés nas próprias raízes e visitar sua ancestralidade.
Ensinar que se pode comer de tudo, pode pizza e pode couve-flor também e que há várias formas de consumi-la. Não precisa ser só cozida no vapor, e tudo bem não gostar de tudo de uma vez só, a criança terá uma vida para experimentar, gostar, desgostar.
Também não precisa de tanta regrinha chata, pois o intuitivo dela vale mais que tudo.
Cozinhar com crianças é ir mostrando a diferença entre comer de tudo e comer tudo.
O nosso corpo precisa de comida para viver, para brincar, estudar, amar. O formato do corpinho dela não tem nada a ver com o que ela come, ele é ideal pra ela do jeitinho que ele é e existem vários tipos de corpos, nenhum melhor que o outro, cada um com sua beleza, com um valor que não é medido pelo físico.
Cada corpo permite vivenciar e guardar suas histórias.
Tem dia que a gente acorda se amando e outros dias nem tanto, mas não deixe o mundo trazer sofrimento em cima de qualquer insatisfação que sua criança venha ter.
O suficiente é bem vindo, às vezes vamos exagerar, se lambuzar, e tudo bem, faz parte!
O importante é manter a sabedoria do corpo, e entender que naquele alimento se encontra o universo: o sol, a terra, a semente semeada, a chuva, a natureza, quem colheu, quem embalou, quem comprou.
Cozinhar nos ensinar a abrir a casa e o coração para os amigos com uma comidinha bem gostosa!
Assim como a vida é cheia de ciclos, os alimentos também tem seu tempo nas estações, e a resiliência pode ser aprendida na cozinha também.
Cozinhar com as crianças é estruturar sua identidade, e ir mostrando que ela come o que ela é, e embora tudo soe no campo da possibilidade, talvez até da utopia, vale a pena pelo menos tentar vislumbrar novos caminhos com as crianças para que elas tenham uma conexão mais amigável com a comida, com o corpo, com as pessoas, com a vida e com o mundo.
Você, que lê esse texto e já é adulto, pense se sua criança interior está disposta a ser ressignificada. Acorde- a, cozinhe e brinque com ela!

Daniella Ribeiro Saad é nutricionista e especialista em transtornos alimentares pelo Hospital das Clínicas de São Paulo.
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E muito importante ensinar as crianças a cozinhar e serem independentes,eu mesma ensinei a minha filha a cozinhar com 10 anos.
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